Plataformas usam inteligência artificial para descobrir jovens talentos no futebol brasileiro
peneira por ia
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Marcela Geremias, de 14 anos, foi contratada para a base do Corinthians em maio. A notícia pode parecer corriqueira, mas ganha contorno especial quando se destaca que a Inteligência Artificial (IA) foi parte crucial para o clube prestar atenção na jovem atleta.
" Foram os meus amigos que me mostraram a plataforma (Cuju). Na época, estava atuando pelo Avaí e passei a publicar todo dia " conta Marcela, que ressalta: " A visibilidade que me deu ajudou muito para que eu chegasse ao Corinthians.
Assim como em outras vertentes da sociedade, a IA se tornou um novo trunfo de start-ups europeias ligadas ao esporte. Elas chegaram ao Brasil para "garimpar" joias do futebol, pelo país ser o mais renomado na produção de promessas. As plataformas Cuju, da Alemanha, e Footbao, da Itália, são as pioneiras na modalidade.
Como uma espécie de "gamificação" das peneiras, os jovens em busca de oportunidades em bases de clubes brasileiros gravam e lançam seus vídeos nas ferramentas. Ambas fazem diferentes usos da IA e têm como princípio fazer da plataforma uma forma de vitrine para os clubes, democratizando mais o processo de seleção de jogadores.
" Atletas de diversos locais do Brasil agora têm a oportunidade de serem vistos. Um jovem do Acre, hoje, tem a possibilidade de ser visto por um clube do Rio de Janeiro sem ter que se deslocar até esse clube, independentemente de onde o atleta seja, da classe social ou até da qualidade do vídeo " explica o diretor da Footbao no Brasil, Euler Victor.
Marcela já atuava no Avaí quando passou a se interessar pela Cuju. Ela usou as orientações dadas pela IA para conseguir ganhar classificações mais altas na plataforma. O software orienta oito exercícios considerados fundamentais no esporte, que se dividem em gestos técnicos, como controle de bola e passes, e exercícios físicos, que demandam explosão com saltos até corridas com mudanças bruscas de direção.
" Além da visibilidade, a plataforma me ajudou muito na minha evolução diária, nas questões técnicas. Eu estava fazendo esses exercícios sugeridos todos os dias " diz a jogadora.
clube alemão testa
Assim como na interface, ela foi um dos destaques da "Jornada", evento realizado pela start-up alemã que levou 300 jovens " selecionados com base nos perfis e habilidades na plataforma " a participar de uma peneira especial, que aconteceu em Joinville, Florianópolis e Blumenau, em Santa Catarina, ao longo do ano, com olheiros de diversos clubes, presença de nomes consagrados do esporte e até apresentações musicais.
" Para trazer uma prova de conceito do nosso aplicativo, optamos por fazer três peneiras com atletas convidados a partir de uma seleção da inteligência artificial. Dos mais de 100 mil usuários do aplicativo, 300 atletas foram escolhidos para o torneio, que foi chaveado até uma final que terminou com 96 atletas " explica o diretor de marketing da Cuju, Vinicius Las Casas. " As escolhas dos especialistas de futebol convidados foram muito similares às da IA " ressalta.
Além de Marcela, a plataforma já foi ponte para a captação de olheiros de outros clubes, como o Barra FC, que contratou seis atletas, assim como o Joinville, com dois, e até o alemão Hertha Berlim, que está testando dois jovens que utilizam a plataforma.
Já a Footbao atua de modo diferente. Enquanto a tecnologia da Cuju compara os dados existentes e avalia uma certa quantidade de habilidades, de forma semelhante aos games de futebol, a Footbao rastreia os jogadores dentro de campo e faz cortes de vídeos que considera atraentes para serem expostos na plataforma. O uso da IA é feito para melhorar o material publicado pelos atletas neste aplicativo, tornando os vídeos mais apresentáveis para clubes e para os olheiros da própria plataforma do que gravações caseiras.
" Hoje, buscar um clube de futebol, mesmo que seja uma seletiva, sem um vídeo, é como procurar trabalho sem currículo. Os clubes realmente cobram isso do atleta, tem que ter uma gravação jogando " argumenta o diretor da Footbao no Brasil, Euler Victor.
A Cuju trabalha ainda com a ideia de massificar o produto nos países em que atua. É totalmente gratuita tanto para clubes quanto para atletas acessarem e investe os aportes de fundadores como o volante do São Paulo Luiz Gustavo. Já a Footbao tem como principal retorno financeiro as parcerias com clubes. Eles não têm peneiras como a start-up alemã, mas abrem seleções online para destrinchar pedidos de clubes clientes.
Ao todo, a Footbao tem 20 clubes que trabalham com ela, com destaque para as equipes da Série B, Avaí e Goiás. Mas o diretor também ressalta que estão em vias de fechar negócios com dois clubes da Série A, assim como expandir a marca para países como Colômbia e Argentina.
também Rede social
Para além do sonho dos jovens de se tornarem vistos por clubes profissionais, as ferramentas servem também como uma rede social. Só no Brasil, a plataforma já foi baixada duas milhões de vezes. Euler ressalta que, desse número, grande parte é de jovens que apenas gostam de publicar os vídeos sem compromisso, para mostrar suas habilidades. Estes são separados pela IA dos considerados mais talentosos, que somam cerca de 10 mil atletas.