Martes, 09 de Septiembre de 2025

Crise de companhias reduz malha aérea e deixa cidades sem avião

BrasilO Globo, Brasil 1 de septiembre de 2025

país menos conectado

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O Brasil soma mais de 500 aeroportos públicos, mas só 137 registraram voos comerciais em julho, o que significa queda em relação aos 155 de igual mês de 2024 e aos 162 do mesmo período de 2023. Em um par de anos, o recuo supera 15%. Assim, apesar da expansão no volume de passageiros " com recorde histórico de 11,6 milhões em julho ", as dificuldades enfrentadas pela aviação civil restringem a cobertura da malha de voos.
A oferta de voos pelas companhias aéreas é permanentemente ajustada conforme demanda, sazonalidade e outros fatores. A retração de destinos, porém, ocorreu também em março, quando 154 aeroportos registraram pousos e decolagens de linhas comerciais, segundo o Relatório de Oferta e Demanda da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Em março de 2023 eram 163.
Desde a pandemia, as três grandes empresas aéreas do país recorreram ao Chapter 11, o equivalente nos EUA à recuperação judicial no Brasil. A Latam ingressou em 2020, concluindo a reestruturação em dois anos. A Gol percorreu o trâmite entre maio de 2024 e junho passado. Já a Azul iniciou o processo no fim de maio.
Todas chegaram ao Chapter 11 com alto endividamento e necessidade de capital para manter as operações e fazer frente a obrigações, impactadas por prejuízos na pandemia. Para obter recursos e cortar débitos é preciso reduzir custos e reajustar a frota. Isso bate na oferta de voos e destinos. Latam e Gol passaram por isso. Depois, voltaram a crescer. Agora, é a vez da Azul.
Pelo plano de recuperação, a Azul busca US$ 1,6 bilhão em financiamento e até US$ 950 milhões em aportes, com foco em cortar mais de US$ 2 bilhões em dívidas. Entre as medidas para isso está a redução em 35% da frota futura.
Em fevereiro e março, a empresa suspendeu operações em 14 aeroportos. Em 13 deles, era a única empresa voando. Explicou que havia desequilíbrio entre receita e custos nesses mercados. E, em paralelo,ampliou frequências em outros que permitem uso mais eficiente da frota.
‘interior é vulnerável’
Na apresentação de resultados do segundo trimestre, a companhia destacou que a revisão da malha é feita para "maximizar a rentabilidade e a geração de caixa". O foco está em ter malha única, "sem concorrência direta em 83% das rotas, o que representa mais de 70% da receita", constituindo vantagem competitiva. Dos 137 aeródromos com voos em julho, a Azul atuava sozinha em mais de 47% deles.
" A Azul, por ser monopolista em diversas rotas, causa dependência das localidades a sua malha aérea. Ajustes afetam a forma como o interior do Brasil é servido, o que mostra uma sensibilidade maior na recuperação judicial da companhia " diz Alessandro Oliveira, especialista do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). " O interior é muito vulnerável a esse tipo de choque, e aí não é só a recuperação judicial, mas quando o dólar e o preço do petróleo sobem, quando a empresa tem de trocar a aeronave da rota.
A Azul explicou que toda adequação é avaliada para "garantir a sustentabilidade de suas rotas, mantendo o equilíbrio entre oferta e demanda, considerando fatores como aumento de custos operacionais e o processo de reestruturação". E que o ajuste de malha permite chegar a novos destinos. Na próxima alta temporada, ela terá 3,6 mil voos adicionais. Do início do ano para cá, porém, a malha encolheu de mais de 160 para 137 destinos.
Há limitações comuns a todas as empresas, como o alto custo de operação no país e a escassez de aeronaves e peças de reposição no mercado global, sob efeito do período da Covid-19. Com a demanda aquecida, aviões estão lotados, com ocupação média perto de 86%, o que pressiona tarifas.
Em julho, a inflação subiu 0,26%, puxada pela alta na energia elétrica. Mas o grupo de Transportes acelerou (0,35%), com o aumento das passagens aéreas, de 19,92%, em período de férias. Na prévia de agosto, apresenta recuo.
" O país deveria ter mercado regional mais atrativo, pela dimensão, sobretudo no Norte. Por que não temos? A economia não vai bem para que as pessoas tenham dinheiro para comprar passagens. Elas são caras pela alta exposição das empresas ao dólar, à variação do preço do combustível, a carga tributária, com o agravante da judicialização " diz Fabio Falkenburger, sócio do Machado Meyer Advogados.
Para incentivar a aviação regional, diz ele, seria preciso mexer no mercado como um todo, e Latam e Gol teriam de contar com aviões de menor porte. Na visão dele, o plano do governo de licitar 19 pequenos aeródromos será "um termômetro" para medir as perspectivas do segmento. E ressalta que pequenas empresas saem de cena porque o negócio tem margens "muito apertadas".
A Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) sublinha que as companhias brasileiras têm 60% de custos atrelados ao dólar. Há outros entraves como o preço do combustível (QAV) e o impacto da alta da alíquota do IOF, que incide sobre arrendamento e manutenção de aviões.
O crescimento da aviação "depende de políticas que viabilizem a inclusão da classe C no transporte aéreo e a implementação de medidas estruturantes que apontem para a redução dos custos", diz a Abear.
Para as cidades que deixam de ser atendidas por voos comerciais, o cenário é "muito ruim", avalia Jeanine Pires, ex-presidente da Embratur:
" As pessoas que trabalham, moram e visitam, dependendo da cidade, criam o hábito de usar o avião. Quando a cidade deixa de ser atendida, é um retrocesso.
‘região fica isolada’
Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, é uma das 13 cidades agora sem voos comerciais.
" Tínhamos voos diários para o Rio, depois ficamos com os diários para Campinas (da Azul). E hoje não temos mais nenhum voo e, sem perspectiva de retorno, posso afirmar que a região fica isolada. Eventos, convenções e seminários estão sendo cancelados, representando prejuízo " diz Edvar Júnior, subsecretário de Turismo do município.
Ele enviou ofícios à Azul solicitando a volta dos voos Campos-Rio, encerrados em 2023, além de um pleito ao ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho. Na semana passada, no primeiro festival internacional de cinema da cidade, conta que recebeu queixas dos patrocinadores sobre a dificuldade de chegar no local, a 280 quilômetros da capital.
" Não temos mais aeroporto no interior do Estado do Rio com voo para a capital ou outro lugar. Isso prejudica o desenvolvimento do estado. Em Campos, tem o crescimento com o Porto do Açu, e no momento que a Petrobras anuncia R$ 23 bilhões de investimento na Bacia de Campos.
Fabio Paes, proprietário da Nutrimed, empresa de nutrição enteral e parenteral, usava os voos de Campos para Campinas semanalmente. Com o fim do serviço, o trajeto que fazia em uma hora agora leva cerca de seis, pois vai de carro até o Rio para depois pegar o avião para Campinas.
" Perdeu-se a agilidade em se fechar negócios " conta.
O Ministério de Portos e Aeroportos afirma que "é necessário desenvolver o transporte aéreo, a infraestrutura aeroportuária e aeronáutica". Entre as iniciativas nessa direção, aponta que haverá alíquota diferenciada para a aviação regional, prevista pela Reforma Tributária, além das linhas de crédito para as companhias do setor, que terão R$ 4 bilhões em recursos, perto de serem implementadas. Esses empréstimos pedem entre as contrapartidas aumento em rotas de e para a Amazônia Legal e o Nordeste.
O Ministério frisa haver discussões para reduzir o custo do QAV, o peso do IOF e do Imposto de Renda sobre o leasing de aeronaves. Estão sendo feitos aportes para modernização de aeroportos.
137
aeroportos registraram voos comerciais em julho
São mais de 500 terminais no país. Nos últimos dois anos,
houve queda de 15%
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