Canetas contra obesidade são porta de entrada para futuro do negócio
Entrevista
Entrevista
Gigante dos genéricos, a EMS foi a primeira farmacêutica brasileira a colocar no mercado canetas emagrecedoras e contra diabetes. Batizados de Olire e Lirux e lançados no mês passado, os medicamentos têm como princípio ativo a liraglutida, espécie de "primeira geração" da tecnologia. Agora, a EMS já planeja um concorrente direto do Ozempic, divisor de águas da categoria. Baseado em semaglutida, sua patente cairá no ano que vem. O movimento da brasileira deve ampliar a guerra judicial com a Novo Nordisk, que busca a extensão das patentes da liraglutida e do próprio Ozempic.
Segundo Marcus Sanchez " cuja família é dona da companhia ", a EMS enxerga as canetas como caminho irreversível para o negócio e ponta de lança de uma nova plataforma tecnológica que deve mudar o mix de receitas da farmacêutica.
Como está a demanda pelas canetas?
Está 20% acima das expectativas. O mercado de diabetes e obesidade, infelizmente, só deve crescer. Por mais que nossas canetas sejam apenas a primeira geração de uma tecnologia que já está na terceira (a semaglutida, de Ozempic e Wegovy, é a segunda geração; a terceira é a tirzepatida, do Mounjaro), estamos falando de um medicamento inovador e com enorme demanda reprimida. E estamos oferecendo um produto que dá acesso.
Por quê?
Nosso tíquete médio é na casa dos R$ 300. E a tendência é que haja redução de preço conforme atingirmos níveis maiores de produção.
Quanto essas canetas vão contribuir para o faturamento da EMS?
Deve ser de até R$ 120 milhões no ano que vem. Já a EMS como um todo tem um faturamento anual na casa dos R$ 7,5 bilhões.
É mais que 1% no primeiro ano. Não é enorme, mas tampouco desprezível…
Exato. Mais que o faturamento, porém, há a questão da plataforma tecnológica. Essas canetas são nossa porta de entrada na plataforma de peptídeos (pequenas cadeias de aminoácidos que estão por trás das canetas emagrecedoras e outros medicamentos inovadores). Há 12 anos, meu tio (Carlos Sanchez, presidente do conselho) teve a visão de que os peptídeos seriam a próxima onda de inovação. Já investimos R$ 1,2 bilhão nessa tecnologia. Como ele brinca, ele mirou no que viu e acertou no que não viu: ninguém imaginava impactos tão grandes além de diabetes e obesidade.
Por que os peptídeos são revolucionários?
Porque são muito mais assertivos, atacam diretamente os problemas, exigindo menos aplicações e garantindo mais eficácia. É como se fosse um míssil teleguiado. E somos a única farmacêutica brasileira com uma plataforma proprietária. Estamos aumentando a contratação de PhDs, de 80 para 150 no ano que vem.
O que mais vocês vão lançar em peptídeos?
Já protocolamos na Anvisa pedido para lançar semaglutida em meados do ano que vem (a patente cai em 2026). Quando esse novo medicamento se somar ao faturamento das canetas que já lançamos, ficará clara a relevância dessa plataforma.
Mas a Novo Nordisk tem acionado a Justiça para prolongar suas patentes…
No Brasil, existia uma interpretação equivocada do artigo 40 (da Lei de Propriedade Industrial), que concedia extensões de patentes que, no nosso ponto de vista, eram indevidas. Nós somos a favor de patentes, as respeitamos, mas somos contra a extensão. Em 2021, o STF declarou o artigo como inconstitucional. Isso deveria encerrar a conversa. Agora, estão querendo criar factoides, fatos novos, para levar isso novamente ao Judiciário. Há um interesse econômico enorme.
A Novo Nordisk alega merecer a extensão porque o INPI levou anos para analisar as patentes…
Entendemos isso como litigância de má-fé, porque o STF já decidiu. O que eles querem é gerar alguma desestabilização para a nossa cadeia, embora não tenha tido qualquer impacto até agora. Será um vai e vem de liminares, uma hora para eles, outra hora pra gente, mas o mérito foi julgado no STF. (Em nota, a Novo Nordisk diz que se trata de "pleito legítimo de recomposição de um direito" para "remediar a demora excessiva e irrazoável do INPI na concessão da patente.")
Vocês temem a concorrência de outras empresas que explorem as patentes caídas?
Não estamos sozinhos na corrida, já existem sete pedidos de liraglutida e 12 de semaglutida na Anvisa. Mas saímos primeiro e somos os únicos com plataforma proprietária de tecnologia. Os outros vão licenciar. Por isso essa plataforma coloca a EMS em outro patamar e nos define como player de inovação. Nascemos de uma indústria de cópia, não negamos. Temos orgulho, inclusive, de termos conseguido crescer a partir dali. Mas hoje temos inovação para jogar de igual para igual com estrangeiras, embora com orçamento muito menor.
Marcus Sanchez, vice-presidente da EMS