Domingo, 26 de Octubre de 2025

‘Gargalo na cadeia da aviação melhorou’

BrasilO Globo, Brasil 26 de octubre de 2025

Entrevista

Entrevista
Após quase quatro décadas em operação, a linha A320 da europeia Airbus deve tomar o reinado da americana Boeing como o avião comercial mais entregue da história da aviação, informou no começo do mês a consultoria internacional britânica Cirium, referência no setor. Em entrevista ao GLOBO, o presidente da Airbus na América Latina, Arturo Barreira, celebrou a notícia e comentou os desafios regionais na esteira da decisão da Latam, parceira de longa data da fabricante, de adquirir até 74 unidades E195-E2 da brasileira Embraer. Diplomaticamente, o executivo diz que "a concorrência é sempre bem-vinda" " ainda mais considerando a atual demanda acima da oferta global e muitos atrasos no setor ", mas defendeu o A220, da Airbus, como "ideal" para rotas regionais e domésticas, objetivo da Latam.
Sem revelar números, o executivo diz que a empresa segue apostando no potencial dessa linha na América Latina e disse estar em negociações com aéreas na região a partir do Brasil. Na última quinta-feira, o Grupo Abra, que controla a brasileira Gol Linhas Aéreas e a colombiana Avianca, anunciou uma expansão da frota com a previsão de 57 aeronaves Airbus, entre os modelos A330neo e A320neo.
Para Barreira, o Brasil tem capacidade de se tornar líder mundial no fornecimento do combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês) como alternativa ao atual querosene (QAV) de origem fóssil. O SAF é visto como uma das principais apostas das aéreas no mundo para o setor atingir a meta de emissão zero de carbono até 2050 e afastar a má fama nessa área em meio às mudanças climáticas, mas a produção em escala do combustível ainda é um desafio.
O que representa para a Airbus na América Latina a família A320 ser alçada ao posto de aeronave mais entregue da história da aviação comercial?
Vi a informação na imprensa, mas ainda não a confirmamos oficialmente. O que posso dizer é que, desde o final dos anos 1990, registramos 75% dos pedidos de aeronaves na América Latina. Hoje, quase 60% das aeronaves com mais de 100 assentos que voam na região são Airbus. Cerca de 70% da atual carteira de pedidos entre os três principais fabricantes aqui é de aeronaves Airbus. Temos uma posição incrível no mercado.
Há 35 anos pousavam no Brasil os primeiros A320 trazidos pela então TAM como parte de um ambicioso plano para se chegar à liderança no segmento. De que forma a aeronave contribuiu para o incremento do mercado aéreo brasileiro?
Sem dúvida alguma, o A320 se tornou a aeronave mais bem-sucedida da região, e não só por sua eficiência operacional, como também pelos padrões de conforto e pelo desempenho em aeroportos complicados ou de grande altitude na região. Tudo isso fez com que ele se tornasse o avião mais bem-sucedido da América Latina, e do mundo, atualmente.
O primeiro semestre do ano foi desafiador para toda a indústria de aviação, com gargalos na cadeia de suprimentos e atrasos nas entregas. Como a Airbus tem lidado com esses problemas na região?
Os gargalos na cadeia de suprimentos estão melhorando. Nossa maior preocupação é com o fornecimento de motores. Por volta de julho, tínhamos algo como 16 aeronaves totalmente finalizadas, mas sem motores. Nossos parceiros prometeram entregar as unidades na segunda metade do ano, e por isso teremos um segundo semestre com entregas concentradas. Com isso, esperamos que consigamos atingir a meta de cerca de 820 aeronaves entregues neste ano em todo planeta.
Brasil e a América Latina figuram entre as regiões de crescimento mais acelerado na demanda por transporte aéreo, mas enfrentam gargalos de infraestrutura e altos custos operacionais. Quais os principais obstáculos para o setor avançar?
Nos últimos 25 anos houve enorme consolidação na região. Passamos de algo como uma centena de companhias aéreas no início dos anos 2000 para cerca de trinta e poucas hoje, com cinco grandes grupos representando aproximadamente 75% do mercado. Esse movimento também aconteceu em torno de (clientes de) algumas de nossas aeronaves, como a família A320, com LAN e TAM (que se uniram na Latam), Avianca e TACA, entre outras. Eles reclamam de aeroportos e dos impostos.
Como o senhor avalia o desempenho da Airbus na América Latina no primeiro semestre deste ano?
Não divulgamos metas regionais específicas. Na Airbus, elas são globais, como a de 820 aeronaves que mencionei. Na América Latina também temos entregas muito concentradas para o fim do ano, é um número significativo, que esperamos concluir. Também estamos em discussões com clientes sobre novos negócios e expansões, mas, por enquanto, nada que possamos divulgar.
O presidente Lula declarou que o governo trabalharia para que Gol e Latam comprassem aeronaves da Embraer, afim de promover a aviação regional. O incentivo estatal prejudica a competitividade no mercado brasileiro?
Não posso comentar sobre as políticas do governo. O que posso dizer é que a Airbus está presente e consolidada no Brasil há 45 anos.
Como a Airbus, que tinha uma parceria de longa data com a Latam, recebeu a decisão dela de fechar com a Embraer um pacote de 24 aviões com entregas confirmadas e 50 opções de compras do E195-E2?
Damos boas-vindas à concorrência, saudável para todos nós. Parabenizamos a Latam pela decisão e esperamos que seja a melhor para eles, mas estamos convencidos de que o A220 é a aeronave ideal para as rotas regionais e domésticas. É o único avião desenvolvido no século XXI, totalmente novo, com tecnologia de ponta.
O senhor ainda vê espaço para maior entrada do modelo na América Latina?
Continuamos trabalhando com potenciais clientes para tentar expandir a presença do A220. Hoje, temos o dobro de aeronaves voando, em comparação com o principal concorrente, e o dobro da carteira de pedidos. Já vendemos quase mil aeronaves da família A220, e temos cerca de 500 a serem entregues nos próximos anos. É um produto extremamente bem-sucedido, do qual temos muito orgulho. Acreditamos que é o produto certo para esse mercado e continuaremos lutando por novos pedidos na região.
Há planos ou negociações para tornar a aeronave mais competitiva no Brasil?
Não comentamos táticas específicas. As principais características da aeronave são sua eficiência econômica e operacional, resultantes de um projeto totalmente novo. O A220 tem motores, asas e materiais de última geração, além do conforto interno: é mais larga, com assentos de até 18 polegadas, compartimentos de bagagem maiores e janelas maiores do que as da concorrência. Na nossa visão, a proposta de valor para as companhias aéreas, em economia e conforto para o passageiro, é muito atraente. E isso se reflete no sucesso que temos em mercados como Europa e Estados Unidos.
A Airbus tem investido em tecnologias de descarbonização, como o combustível sustentável de aviação (SAF). Qual a principal iniciativa da companhia neste setor no Brasil?
Temos trabalhado amplamente em sustentabilidade com o Brasil e colaboramos de perto com o governo brasileiro no projeto da Lei do Combustível do Futuro (que regula e cria incentivos ao desenvolvimento de combustíveis sustentáveis). Alguns de nossos executivos participaram de sessões no Parlamento como palestrantes em apoio à proposta. Temos sido muito ativos nesse tema e continuamos trabalhando com diversos fornecedores de energia e combustível para avaliar o que pode ser desenvolvido e como podemos contribuir.
Como a Airbus vê a aposta no combustível renovável?
Não temos dúvidas de que o Brasil pode se tornar um dos líderes mundiais no fornecimento de combustíveis sustentáveis de aviação nos próximos anos. Nós, da Airbus, como parte do compromisso global (de zerar emissões de carbono do setor), apoiamos o caminho até 2050, e os combustíveis sustentáveis de aviação são parte essencial para atingir essa meta. O Brasil, por sua própria capacidade intrínseca, tende a ser um país líder em biocombustíveis nos próximos anos. Por isso, é tão importante para nós estarmos presentes nesse setor no país.
Arturo Barreira / CEO da airbus na al
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