O pranto das mães do alemão e da penha

O escritor Carlos Heitor Cony (1926-2018) dizia que a vida toda desconfiou que o mundo estava cheio de idiotas e que "a chegada da internet veio provar que ele tinha razão." Diante das imagens de mulheres chorando em frente aos cadáveres dos filhos que morreram na operação policial no Complexo do Alemão e na Penha, as redes sociais estão cheias de postagens culpando as próprias mães pela carnificina, pois não teriam sabido educar os seus " a exemplo do que vomitou o youtuber Arthur do Val, ex-deputado paulista cassado por falta de decoro e que tem mais de 2,5 milhões de inscritos.
No Rio, onde pesquisa da Uerj mostra que sete em cada dez casas em favelas são chefiadas por mulheres, as poucas opções de muitas delas para levar comida para casa são o trabalho como domésticas ou de babás dos filhos dos outros. Enquanto isso, os seus ficam, por vezes, a semana toda aos cuidados de parentes, amigos e até sozinhos.
Para a socióloga Ananda Viana, autora de "Maternidade na favela", um estudo de caso de mães do Alemão, culpar a mãe pelo que os filhos fazem é tentativa de desumanizá-las. "Nesse caso, as mães são julgadas e condenadas de forma individualizada por um fenômeno que é social", diz.
Para a socióloga, tem gente olhando somente a superfície da coisa e não o que está por trás disso tudo. "Normalmente, nesses discursos, não são levadas em conta as estratégias que as mulheres estão fazendo para que os filhos delas não entrem para o tráfico. Elas não querem que os filhos entrem para esse mundo."
(Leia no site a entrevista completa sobre o tema de Ananda Viana para a repórter Thayná Rodrigues.)
Em tempo: só uma besta-fera não respeita o pranto de uma mãe " qualquer mãe e independentemente das circunstâncias " diante do cadáver de um filho. Tenho dito.