Produtores paulistas começam a investir em pomares de açaí
Quando se fala em açaí, logo vem à mente a ideia de um produto exclusivo da Amazônia. Mas ...
Quando se fala em açaí, logo vem à mente a ideia de um produto exclusivo da Amazônia. Mas isso está mudando. O cultivo da fruta começa a ganhar espaço no estado de São Paulo pelas mãos de produtores que estão consorciando o açaí com lavouras como seringueira, cacau e banana.
Até o momento são cerca de 50 hectares cultivados em oito propriedades da região noroeste paulista, envolvendo 13 municípios do entorno de São José do Rio Preto. Além disso, outros dez projetos devem ser implantados até fevereiro de 2026, elevando a área cultivada no estado a 80 hectares, segundo levantamento da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), a pedido da reportagem.
Os cultivos ocorrem em áreas quentes e com boa disponibilidade de água, condições ideais para o açaí.
" Os produtores utilizam o manejo irrigado e técnicas agrícolas adaptadas, diferentes do extrativismo tradicional da Amazônia " explica o extensionista Andrey Vetorelli Borges, da Cati.
A produtividade esperada é alta, entre 10 e 15 toneladas por hectare, e a polinização por abelhas tem contribuído para o contínuo aumento da produção.
Primeiros pomares
A variedade cultivada em São Paulo é a BRS Pai D’égua, desenvolvida no programa de melhoramento genético do açaizeiro para terra firme com irrigação realizado pela Embrapa Amazônia Oriental.
Nelcindo Gonsalez é o pioneiro no plantio em São Paulo. Ele iniciou o cultivo em 2019 depois de se aposentar. Foi no Pará, onde viveu por 28 anos, que adquiriu o hábito de tomar açaí fresco. Após encerrar carreira de executivo na Vale, Gonsalez retornou à terra natal, São José do Rio Preto, onde decidiu cultivar a fruta.
Ele iniciou o plantio com seis hectares, área depois ampliada para 12 hectares.
" Começamos a colher há três anos e ainda não atingimos a eficiência máxima " diz ele, que calcula produtividade de 5 toneladas por hectare.
Para garantir a polinização, responsável pela formação de frutos, mantém aproximadamente dez milhões de abelhas em sua propriedade. Segundo ele, o desafio para o cultivo da fruta é a oferta de água: a planta adulta demanda de 80 a 100 litros de água por dia por touceira (conjunto de plantas originado de uma muda).
Gonsalez se prepara para verticalizar a produção. Para isso, está construindo, com um sócio, uma fábrica para processar a polpa pura de açaí, com capacidade de dez mil caixas de dez litros por mês.
"Nosso objetivo é valorizar o consumo do açaí natural, diferenciado do "sorbet" adoçado que se popularizou no Sudeste, e mostrar seus benefícios nutricionais, como o alto teor de potássio, cálcio, magnésio e ácidos graxos " diz.
Outro projeto para cultivo de açaí no interior paulista é do empresário Marcelo Gumiero, fundador da Agrovalores. Os pomares serão implantados nos próximos meses em Valetim Gentil. O projeto integra cultivo de banana, cacau e açaí. Ele contempla uma unidade de beneficiamento para o cacau, já em operação e, futuramente, a criação de uma usina de processamento do açaí, com foco em polpa natural para fornecimento a indústrias de sorvetes e sobremesas.
Para atender um mercado que cresce a taxas de 20% ao ano, Farias Neto, da Embrapa, avalia que a tendência é que o cultivo da variedade Pai D’égua se espalhe para diversas regiões do país.