Lunes, 01 de Diciembre de 2025

A nova matriz envergonhada

BrasilO Globo, Brasil 30 de noviembre de 2025

gustavo franco

gustavo franco
Não é convincente o compromisso do governo com o equilíbrio fiscal.
Não parece muito certo que o chamado "arcabouço" estabeleça um "regime fiscal sustentável para garantir a estabilidade macroeconômica do País", como era o mandamento do artigo 6º da Emenda Constitucional 126/2022 (conhecida como PEC da Transição) que lhe deu origem.
O "arcabouço" transformou o "Teto de Gastos" numa meta indicativa meio nebulosa e viciada por truques contábeis. Com esse regime o governo pode pisar no acelerador dos estímulos fiscais e ainda construir uma fábula pela qual o déficit praticamente não existe. No fundo, é uma espécie de retorno da Nova Matriza Macroeconômica, de triste memória, só que temperada por certo sentimento de culpa.
A narrativa pode ser importante para o Presidente da República " que já firmou a tese pela qual os livros de economia (e presumivelmente também os economistas) estão superados ", mas é totalmente irrelevante para a dívida pública, que está chegando em 80% do PIB, um número assustador.
Para demonstrar a gravidade do problema vamos usar uns conceitos normalmente aplicados para as empresas.
A pergunta mais comum, para se avaliar se há excesso de endividamento de uma empresa, é quanto anos de geração de caixa são necessários para se pagar inteiramente o seu endividamento. É uma comparação simples entre dívida e capacidade de pagar.
Para uma empresa, geralmente se aceita que qualquer coisa acima de cinco anos é muita "alavancagem".
A geração de caixa de uma empresa é conhecida por uma sigla de contabilidade em inglês: EBITDA, um acrônimo para lucro antes de juros, depreciação e amortizações. A geração de caixa é, portanto, o lucro resultante da operação sem considerar as contas que não representam desembolso (como a depreciação), ou relacionadas à dívida.
Na contabilidade pública, o superávit primário é o que corresponde ao EBITDA das empresas. Ou seja, o superavit primário pode ser visto como a geração de caixa do governo.
Quando a dívida pública chega em 80% do PIB e o superávit primário é de 1,5% do PIB, o que temos é uma alavancagem de sessenta (60) vezes.
Uma empresa que tem dívida equivalente a sessenta vezes a sua geração de caixa é considerada totalmente inviável. Uma "alavancagem" dessa ordem é simplesmente impensável.
Para o Brasil, todavia, é pior ainda, pois nem temos um superávit primário de 1,5% do PIB, mas um déficit de 0,7% do PIB.
Claro que os países são diferentes das empresas. Mas não deve haver dúvida de que já estamos em uma região muito perigosa em matéria de endividamento.
La Nación Argentina O Globo Brasil El Mercurio Chile
El Tiempo Colombia La Nación Costa Rica La Prensa Gráfica El Salvador
El Universal México El Comercio Perú El Nuevo Dia Puerto Rico
Listin Diario República
Dominicana
El País Uruguay El Nacional Venezuela