Morre o tubarão-fêmea Margarida, o primeiro e mais famoso do AquaRio
Agência O Globo -
Famosa entre os visitantes do Aquário Marinho do Rio (AquaRio), Margarida, tubarão fêmea da espécie mangona (Carcharias taurus), morreu neste domingo
Agência O Globo -
Famosa entre os visitantes do Aquário Marinho do Rio (AquaRio), Margarida, tubarão fêmea da espécie mangona (Carcharias taurus), morreu neste domingo. O animal, com idade estimada entre 18 e 20 anos, estava no local desde meados de 2016, e foi apresentado ao público com a abertura do aquário, em novembro daquele ano. A causa da morte ainda não foi divulgada. Será feita a necropsia do corpo nesta segunda-feira e parte dos exames pode levar até um mês para o resultado.
De acordo com o AquaRio, Margarida começou a apresentar um comportamento diferente do habitual ainda neste sábado. Ela foi isolada para ser examinada e receber medicação. A morte foi confirmada por volta das 11h30 deste domingo.
Ela chegou ao espaço vinda do Aquário de Ubatuba, sendo o primeiro grande tubarão do AquaRio, chamando a atenção do público desde então. Em 2017, Margarida ganhou a companhia de dois exemplares machos de mangona, importados dos Estados Unidos, Gastão e Donald. Em 2021, com os dois machos já em idade reprodutiva, houve momentos de corte, mas ela não chegou a reproduzir.
O presidente de honra do AquaRio e biólogo marinho, Marcelo Szpilman, acompanhava Margarida desde o transporte de Ubatuba para o Rio. O tubarão-fêmea havia sido capturada de forma acidental por pescadores, sendo levada para o Aquário de Ubatuba, onde ficou por anos até ser trazida para o novo espaço, há cinco anos.
Na nova casa, se adaptou bem, crescendo — chegou a cerca de 2,5 metros e em torno de 90 quilos —, e se transformando na sensação do público. O nado calmo e a aproximação do público ao passar rente do tubo que cruza o tanque de 3,5 milhões de litros de água a transformou numa celebridade. A equipe do AquaRio garante que Margarida era a mais fotografa e querida entre os mais de 5 mil moradores de 350 espécies.
Szpilman destaca o jeito tranquilo de Margarida, que recebia o público na atividade de mergulho (agora suspensa dada a pandemia de Covid-19):
— O mergulho com tubarões foi criado para a desmistificação dos tubarões, e não só com a mangona, mas com outras espécies, além de e raias e peixes. Não tem essa história de ser o assassino dos mares. Os dois machos e ela são as vedetes do aquário. Têm mais de 2 metros, são bonitos, nadam devagar. Ainda que tenha a aparência mais agressiva, por causa das fileiras dos dentes, é o contrário, são extremamente dóceis. São pouquíssimos ataques registrados no mundo, e isso quando há provocação.
Em nota, o espaço destaca que "lamentavelmente, fora a tristeza e luto por parte de toda equipe AquaRio e dos mais de quatro milhões de visitantes que a conheceram, tem-se uma grande perda para a pesquisa e conservação da espécie que a Margarida muito bem representava".
— Sempre foi um animal super dócil, é uma espécie muito tranquila — conta Szpilman. — Eu mergulhei com minha mulher e com minhas filhas do lado dela. Dá vontade de abraçar ela, muito dócil, passava do nosso lado.
Investimento em estudos
A dócil tubarão-mangona ganhou a companhia dos machos Gastão e Donald em 2017, vindos dos Estados Unidos. Era com um deles que a equipe do aquário esperava conseguir fazer com que Margarida se reproduzisse. O trio fazia parte da pesquisa sobre reprodução em cativeiro.
— É uma perda sentimental, para todos nós do aquário, para quem visitou, e uma perda para a ciência na medida em que se testava no estudo de reprodução como uma embaixadora da própria espécie — destaca o biólogo marinho Marcelo Szpilman.
O AquaRio esperava ter o mesmo sucesso obtido com o casal de raia-borboleta, que em 2019 de deu à luz a cinco filhotes, sendo três deles machos e duas fêmeas. O espaço se tornou o primeiro aquário em conseguir o feito em condições ex-situ — isto é, fora do ambiente natural.
— É uma perda para a conservação e reprodução dessa espécie (mangona). Todos estavam otimistas, já estava tendo a corte e o comportamento dos machos — diz Szpilman. — É uma das espécies mais ameaçadas do mundo e do Brasil, por isso a importância de conservá-la. Se conseguisse, seria a primeira reprodução da espécie em cativeiro do hemisfério sul. A raia-borboleta foi a primeira do mundo todo. Isso dava uma esperança para conseguir com o tubarão mangona.
De acordo com Szpilman, a expectativa agora é de conseguir uma outra fêmea para dar continuidade ao programa de reprodução.
Casa nova
Margarida estava no AquaRio desde setembro de 2016, dois meses antes do espaço abrir as portas. O mudança do Aquário de Ubatuba, no município de mesmo nome, em São Paulo, exigiu uma operação meticulosa. Uma equipe especializada neste tipo de transporte veio de Portugal acompanhar a logística, que teve início no Rio de Janeiro, com caminhões com caixa de transporte e com reserva de água limpa.
Na época, ela já estava com cerca de 2 metros de comprimento. Com habilidade de respirar sem precisar estar em constante movimento, não houve necessidade de um veículo tão largo que possibilitasse o nado em círculos. Margarida e Sharon — um tubarão-fêmea da espécie lambaru —, também trazida para o AquaRio, pegar a estrada no fim da tarde e durante a noite, período de temperaturas mais amenas.
— São duas espécies que conseguem respirar sem se movimentar, porque a maioria dos tubarões precisa estar sempre nadando para poder abrir a boca, passar pela boca, banhar as brânquias e sair pela brânquias laterais. O tubarão na maioria das vezes precisa estar constantemente nadando. Se ele parar de nadar, começa a ter problema de respiração. Mangona e lambaru conseguem fazer esse fluxo de água passar pela brânquia sem ter que nadar. isso facilita o transporte, claro, para não ser grande onde precisa nadar em círculos e respirar — conta o biólogo.
A entrada no novo endereço exigiu mais logística e cuidado.
— Nós chegamos de madrugada, toda a equipe esperando. Numa maca de lona grande, transportado para o elevador, sobe, vai direto para a altura do grande tanque e vai direto para a água. Se errar em alguma coisa, o animal pode morrer — explica Szpilman, que salienta ter no aquário carioca um dos menores índices de perda na captura e no transporte no mundo.