Israel amplia ofensivas militares em gaza e na síria
Principal porta de entrada de Israel, o Aeroporto Internacional Ben Gurion, em Tel Aviv, ...
Principal porta de entrada de Israel, o Aeroporto Internacional Ben Gurion, em Tel Aviv, teve o perímetro bombardeado ontem, em um raro ataque proveniente do Iêmen a ter sucesso em atingir o solo do Estado judeu. A ação que deixou seis feridos, reivindicada pelo grupo rebelde Houthi, apoiado pelo Irã, ocorre em um momento em que as Forças Armadas israelenses expandem o raio de sua intervenção regional ao ampliar suas ofensivas na Faixa de Gaza e na Síria.
Após uma reunião de Gabinete, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, prometeu retaliação contra o grupo rebelde e contra Teerã. No encontro, também foi aprovado um plano para convocar dezenas de milhares de reservistas para intensificar a ofensiva em Gaza. A ideia, segundo a emissora pública israelense Kan 11, seria retirar os civis antes de ampliar a operação no norte e centro do enclave, em uma tática similar às usadas em Rafah no começo deste ano. O objetivo é aumentar a pressão sobre o grupo terrorista Hamas, que condiciona a devolução de dezenas de reféns israelenses que mantém no território palestino a um acordo que preserve a existência do grupo e leve ao término do conflito " termos considerados inaceitáveis pelas autoridades israelenses.
Desde o fim do cessar-fogo negociado no início do ano por EUA, Catar e Egito, Israel investe em uma abordagem de pressão total contra Gaza, incluindo bombardeios massivos, controle de amplas áreas do território e um bloqueio de fronteira que impede a entrada de ajuda humanitária há dois meses e faz crescer a fome da população local.
Conflito sectário
Em outra frente, o Exército israelense anunciou em comunicado no sábado que estava posicionando tropas no sul da Síria para proteger a comunidade drusa " uma minoria étnica que vive em regiões dos dois países e do Líbano " após realizar bombardeios em resposta a confrontos religiosos envolvendo grupos ligados ao governo. Com passado jihadista, como o presidente Ahmad al-Sharaa, a nova liderança derrubou o regime de Bashar al-Assad em dezembro do ano passado. A medida se soma a bombardeios prévios contra supostos arsenais de Assad e ao avanço sobre as Colinas de Golã " ambas justificadas como uma estratégia de defesa.
Os confrontos sectários têm sido uma das grandes preocupações dentro da nova Síria. No início de março, uma escalada sectária deixou 1.700 mortos no oeste do país, em sua grande maioria membros da minoria alauita, grupo étnico de Assad. A escalada envolvendo os drusos começou na segunda-feira, após a divulgação nas redes sociais de uma mensagem de áudio atribuída a um integrante da comunidade, vista como herege por islâmicos radicais.
O Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH) indicou que 119 pessoas morreram durante os confrontos registrados em Jaramana e Sahnaya, perto de Damasco, e na província de Sueida. A crise motivou pedidos de contenção. O governo sírio acusou "grupos criminosos" pelos ataques, enquanto a ONU pediu moderação a todas as partes. Na quarta-feira, o grande mufti da Síria, Osama al-Rifai, principal clérigo muçulmano do país, escreveu uma mensagem alertando que os combates representam um risco para "todas as raças, todas as religiões, todas as seitas".
Por parte de Israel, a reação veio por meio da força. Os militares israelenses lançaram mais de 20 bombardeios contra o território sírio, incluindo um contra posições do governo perto do Palácio Presidencial, em Damasco, na sexta-feira. Em um comunicado, Netanyahu e o ministro da Defesa, Israel Katz, afirmaram que o ataque era "uma mensagem clara" ao regime sírio contra uma ação contra a comunidade drusa, ao passo que Damasco condenou a ação israelense, chamando-a de uma escalada perigosa.
A questão drusa
Na comunidade drusa, a reação às ações israelenses não foi unificada. Lideranças da comunidade no sul da Síria reafirmaram sua rejeição a "qualquer divisão" territorial do país, apesar de seu líder religioso mais influente, o xeque Hikmat al Hajri, ter denunciado a ocorrência de uma "campanha genocida" contra "civis".
Na quarta-feira, o líder druso-libanês Walid Jumblatt pediu para que os líderes da minoria na Síria rechaçassem a interferência israelense, argumentando que "preservar os irmãos [drusos na Síria] envolve rejeitar a interferência israelense".
Em Israel, soldados drusos que servem nas Forças Armadas israelenses defenderam em uma carta que o Exército fosse utilizado para defender a minoria no país vizinho. Porém, há quem questione se as ações israelenses são um apoio genuinamente preocupado com a minoria do país vizinho ou se fazem parte de uma estratégia autocentrada. Ouvido pelo jornal israelense Haaretz, o cientista político Anan Wahabi, professor da Universidade de Haifa, afirmou que o objetivo do governo é militar.
" Interesses são o que impulsiona as ações do Estado " disse Wahabi. " [O interesse estratégico de Israel é] criar uma zona desmilitarizada de Damasco ao sul.