Depois de prejuízo bilionário, correios lançam marketplace
Após registrar um prejuízo de R$ 1,72 bilhão no primeiro trimestre, os Correios lançaram uma ...
Após registrar um prejuízo de R$ 1,72 bilhão no primeiro trimestre, os Correios lançaram uma plataforma própria de compras on-line. Segundo a estatal, o marketplace Mais Correios nasce com um catálogo de mais de 500 mil produtos e terá cobertura de entrega nacional, com a infraestrutura logística dos Correios.
De acordo com a empresa, toda a jornada acontece dentro da plataforma, desde a compra até a rastreabilidade da entrega.
"O Mais Correios une o físico e o digital: consumidores e lojistas terão o apoio de milhares de canais de atendimento dos Correios espalhados pelo país " como agências e lockers", informou a empresa em nota.
Com o selo "Correios Mais Entregas", o frete oficial da plataforma, segundo a empresa, terá prazos estimados de até três dias úteis, podendo chegar a um dia útil em grandes centros urbanos. As regiões, porém, não foram detalhadas.
Grandes marcas já têm destaque na plataforma. Caso de Samsung, Philco, Electrolux e Midea. A partir de agosto, micro e pequenos empreendedores poderão se cadastrar para vender seus produtos no marketplace. O registro terá apoio técnico e parcerias com instituições como o Sebrae.
NOVO MODELO DE NEGÓCIO
A plataforma foi lançada na terça-feira, mas fontes próximas dizem que os Correios vêm trabalhando no projeto há cerca de três anos, com a capacitação dos profissionais envolvidos.
O lançamento chega um mês depois da divulgação do balanço da estatal, que registrou prejuízo de R$ 1,72 bilhão no primeiro trimestre, mais do que o dobro das perdas apuradas em janeiro a março do ano passado (R$ 801 milhões). A divulgação do balanço não detalha causas do desempenho, mas os números da empresa mostram que ela teve o pior resultado para um primeiro trimestre desde 2017.
Professor de Gestão de Negócios da FGV e diretor da consultoria Canal Vertical, Roberto Kanter analisa que, nesse cenário, o marketplace desponta como uma aposta da estatal num novo modelo de negócio. Ele observa que os Correios saem em larga vantagem pela capilaridade e experiência logística, mas que o sucesso da empreitada depende do desenvolvimento comercial, onde a empresa não tem experiência:
" A chave do marketplace é ter os centros de distribuição próprios e capilaridade para uma entrega rápida. Os Correios dominam essa logística como ninguém, mas vão ter desafios enormes, terão que aprender a operação comercial. O maior problema é conseguir diferenciação de fornecedores, o que acho muito difícil.
Entre os entraves estão o ecossistema de serviços e soluções oferecidos por plataformas que já estão consolidadas no mercado, desde cupons de desconto e cashback até conta virtual, cartão de crédito e serviços de streaming, além de ferramentas para os vendedores, como de gestão do negócio e de atração de compradores.
Para Marcelo Nakagawa, professor do Insper, os Correios vão precisar investir em parcerias com vendedores estratégicos em alguns setores e mercados onde os grandes marketplaces "não conseguem chegar de forma competitiva", como cidades menores e comunidades:
" Isto exige capacidade de desenvolvimento tecnológico, organizacional e mercadológico em tempo recorde. Considerando o funcionamento atual dos Correios, a empresa não tem competências nessas frentes e precisará construir de forma urgente e coesa um ecossistema de soluções por meio de parceiras e aquisições para ter condições mínimas de sucesso.
Na visão de Nakagawa, a Mais Correios chega "muito atrasada" ao setor " dominado por players como Mercado Livre, Amazon e Shopee ", mas isso "não necessariamente é um atestado de óbito". Ele lembra que Temu, que chegou "bem depois" das concorrentes, conseguiu crescer. Para ele, porém, a iniciativa deveria ser conduzida numa lógica de startup, não como uma nova unidade de negócio:
" Os Correios deveriam iniciar algo em pequena escala, validar hipóteses como tipo de vendedor, clientes, produtos, detalhes operacionais, parceiros, para só depois acelerar o crescimento. Agindo dessa forma, o investimento seria bem menor, os riscos e incertezas seriam validados como aprendizados, e a empresa poderia construir uma iniciativa mais segura e confiável para todos os envolvidos.