Jueves, 17 de Julio de 2025

‘Levamos o jogo para onde eles não gostam de jogar: os lados’

BrasilO Globo, Brasil 13 de julio de 2025

meu jogo

meu jogo
Se eu fosse o técnico do Chelsea, tentaria fechar o corredor central contra o Paris Saint-Germain. Quando você fecha essa zona, consegue neutralizar as principais peças do time. Os motores do jogo do PSG estão ali no meio. Quem joga pelos lados são jogadores rápidos, virtuosos, muito talentosos, mas são finalizadores de jogadas. A construção acontece no centro, com aquela saída a três e os meias se movimentando por dentro.
Foi isso que orientei no Botafogo. Proibi meus jogadores, literalmente, de fazer perseguições individuais. Disse que quem fizesse isso seria substituído no minuto seguinte. Mostramos em vídeo como o PSG reage quando se vê marcado individualmente: trocam de posição, o extremo entra, o meia sai, o lateral sobe... E aí o adversário se perde, cria-se um vazio imenso na defesa. O que eu pedi foi o contrário: manter a zona, defender coletivamente, e só fazer marcação individual quando o jogador entra na sua área de atuação. Se ele sair, passa a responsabilidade para o colega.
Essa foi a essência da nossa estratégia. O PSG é um time que gosta de acumular jogo por dentro, com associações curtas e rápidas. Quando a bola cai nas pontas, é geralmente para buscar o um contra um, mas eles não são uma equipe de cruzamentos. E foi aí que conseguimos desmontá-los: levamos o jogo para onde eles não gostam de jogar. Em média, o PSG faz 11 cruzamentos por partida. Contra nós, cruzaram 31 vezes. Isso, por si só, já mostrava que os tiramos do plano de jogo ideal.
Fechamos o corredor central com três atacantes muito bem posicionados, impedindo a entrada da bola por dentro. Atrás deles, estavam o Marlon e o Allan, preparados para controlar as flutuações do Vitinha e do João Neves, se ele entrasse. Gregore dava sustentação por trás desses dois. Essa compactação foi crucial. E quando percebi o Vitinha começando a sair da zona dele, indo buscar bola com os zagueiros e abrindo os braços como quem diz "não tenho linha de passe", soube que nossa ideia estava funcionando.
Também nos preparamos para o jogo nas pontas. Meus laterais tinham ordens claras: chegar junto com a bola, não deixar o adversário embalar. Se fosse o Doué ou o Kvaratskhelia, tinham que travar o duelo logo na origem. E um dos volantes " fosse o Marlon ou o Allan " tinha que chegar rápido para formar um dois contra um defensivo. Toda vez que a bola ia para a lateral, os três médios deslizavam para aquele lado para evitar o jogo por dentro ou a bola curta de fora para dentro, que é uma das armas do PSG.
Foi assim que construímos a vitória. E tivemos jogadores que executaram com disciplina e inteligência. O Vitinho, por exemplo, recebeu vídeos específicos e orientações muito objetivas: nunca tomar a iniciativa no um contra um. Disse a ele: "Se fores tu a decidir o momento do desarme, o atacante vai te conduzir e te eliminar. Deixa ele tomar a decisão, tu ajustas depois". Pedi que ele olhasse para a bola, não para o corpo. A partir do momento em que ele seguiu isso à risca, a marcação encaixou.
Esse tipo de detalhe faz a diferença. Mas, claro, é normal que nos primeiros minutos haja dificuldades. O jogo é pegado, o jogador ainda está entrando no ritmo. Mas depois ele foi se ajustando e entendeu a lógica. Houve até um momento em que ele quebrou a regra, foi tentar o bote e levou o drible. Mostrei o lance para ele: "Foste tu que decidiste, e ele te eliminou". Não errou mais.
estudos para duelo
Tudo isso começou com um processo muito específico de análise. Ainda antes de irmos aos Estados Unidos, estudei os últimos jogos do Seattle e do PSG. Do PSG, assisti à semifinal da Champions contra o Arsenal, à final contra a Inter de Milão e à final da Copa da França contra o Rennes. Depois do nosso jogo contra o Seattle, vi o confronto com o Atlético de Madrid. Foi com base nesses jogos que construí a estratégia, com uma noite e um dia dedicados a pensar, detalhe por detalhe, onde podíamos desestabilizá-los.
Em termos de peso midiático, esse foi o maior jogo da minha carreira. Campeão da Libertadores contra campeão da Champions. Mas não diria que foi o melhor. Tenho jogos no Equador, finais em que fomos campeões, que guardo com muito carinho e que, tecnicamente, foram muito fortes da nossa parte. Mas o jogo contra o PSG tem esse valor simbólico e tático.
O que ficou não foi um título. Mas vencemos o campeão europeu, avançamos no grupo da morte, e mostramos ao continente que o Botafogo não foi aos Estados Unidos a passeio. Saímos do Brasil desacreditados, ouvindo que íamos ser goleados. Voltamos com uma vitória histórica.
E veja, essa história de "jogar defensivo" apareceu contra o Palmeiras. Muita gente repetiu isso, mas não há um jogador ou dirigente que possa dizer que eu orientei o time para defender. O que aconteceu foi que o Palmeiras foi melhor. Simples assim. Às vezes, como foi naquele dia, o Abel Ferreira foi superior ao Renato Paiva. E, noutra ocasião, o Renato Paiva foi superior ao Luis Enrique. É disso que o futebol é feito. O primeiro tempo do Palmeiras contra o Chelsea também deu a sensação de que eles foram defensivos. Mas foi o Chelsea que não deu a possibilidade do Palmeiras ter outra postura.
É isso que as pessoas esquecem. Hoje em dia não se dá mérito aos outros, tem sempre que se encontrar culpados, se não a vida não tem sentido. Mas nem sempre se ganha. Nem sempre se perde. Mas quase sempre, se for honesto, é possível reconhecer quando o outro foi melhor.
*Renato Paiva, em
depoimento ao repórter
João Pedro Fragoso.
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