Lunes, 04 de Agosto de 2025

‘Não há decreto que mude o aquecimento global’

BrasilO Globo, Brasil 3 de agosto de 2025

Entrevista

Entrevista
O rápido crescimento da geração de eletricidade eólica e solar, somado a desequilíbrios do setor elétrico, arrefeceu a expansão de fontes renováveis de energia, mas nada que pare a roda de oportunidades da transição energética. A avaliação é de Rogério Zampronha, CEO da Prumo Logística, dona do Porto do Açu, em São João da Barra, no Norte Fluminense. Se projetos de usinas eólicas offshore (em alto-mar) podem ficar para depois, ele diz que fábricas de hidrogênio, metanol e amônia verdes estão saindo do papel. Outro caminho é a geração de energia a partir do gás natural (o presidente Lula inaugurou na semana passada a termelétrica GNA II no Açu) para abastecer data centers, mais recente aposta da empresa.
A transição energética e o combate às mudanças climáticas estão ameaçadas pela posição dos EUA sob Donald Trump?
O aquecimento global existe e continua nos afetando diariamente. Faça ou não parte das políticas públicas de uma nação importante no mundo, continua existindo e, consequentemente, todas as ações que vislumbram a redução de pegada de carbono das atividades mais relevantes continuam fundamentais. Não há decreto ou desejo de um presidente que mude o aquecimento global.
A GNA II começou a operar. Quais os próximos passos?
O gás natural é um combustível da transição energética. Embora seja fóssil, tem baixa emissão quando comparado com outros. Temos uma estratégia de gás natural dentro da Prumo, e a GNA faz parte dela. As usinas GNA I e II somam 3 GW. É o maior complexo de geração térmica a gás natural do Brasil. Temos um plano de expansão importante, que pode chegar ao que já está licenciado, que são 6,4 GW.
Quando será tomada a decisão de construir as usinas III, IV e V?
Assim que for confirmado o novo leilão de capacidade. Não temos data ainda. Seguramente, a GNA vai participar.
E os demais projetos de energia de fonte renovável?
O protagonismo das renováveis como um todo caiu muito no Brasil. Hoje, vemos poucos projetos novos, solares e eólicos, inclusive offshore, que continuo vendo como uma grande solução para o Brasil.
O que explica essa perda de protagonismo?
Há o problema de demanda e o da expansão de geração distribuída (GD, de placas fotovoltaicas instaladas por consumidores) muito acelerada. É uma aberração a GD, que tem um custo de energia gerada três vezes maior que uma usina centralizada, crescer a base de subsídios cruzados que encarecem a conta de energia. Não faz o menor sentido ter tanta GD assim. Um segundo ponto é o custo de capital. Por todas as razões que a gente já conhece, os juros estão onde estão, o que faz energia nova muito cara hoje. E o consumo não está acompanhando o excesso de energia que tem no sistema. Aí você pode perguntar: "por que precisa de térmica então?" É que entre 17h e 18h sai do sistema toda a solar do Brasil. Então, naquele momento, precisamos de uma fonte confiável. O Brasil é o país da energia de menor custo do mundo, mas de maior preço. Aí entra aquela discussão sobre suporte social vis-à-vis quem paga a conta. Para que 60 milhões de casas possam não ter mais de pagar seu uso de energia elétrica, esse custo vai para algum lugar.
Ficamos para trás na transição energética?
Arrefeceram os projetos de geração de energia renovável, mas se fortaleceram os de novos combustíveis, de uma forma que eu não imaginava. Licenciamos uma área de 1 milhão de metros quadrados (na área industrial do Açu) para o hub de hidrogênio (verde). Achávamos que demoraria uns três anos para ocupar essa área, mas em menos de um ano está tudo ocupado. Aí iniciamos, recentemente, o licenciamento da segunda área, agora de 2,5 milhões de metros quadrados. Isso vai fazer o Brasil ter o maior cluster da América Latina de transição energética. Temos lá quatro ou cinco empresas, cada uma com sua área, com sua ambição, que vão produzir metanol, SAF (combustível sustentável de aviação), amônia. Nossa expectativa é que no fim de 2027 ou início de 2028 já estejam produzindo.
E a aposta nos data centers?
Já temos uma reserva de área, não estou autorizado a comentar ainda porque não é um contrato firme. Mas é uma reserva para 400 mil metros quadrados para um cluster de três data centers. Temos a sorte de ter um dos nós principais de backbone (cabo submarino internacional de telecomunicações) do Brasil chegando em Atafona (praia na região do Açu). E, simultaneamente, há crescimento da demanda de energia desses grandes data centers.
E como está o funcionamento do porto?
Já são 10 mil pessoas trabalhando no porto, há dez anos, não tinha ninguém. O que paga a conta hoje é o nosso negócio tradicional. Somos um porto privado, temos uma operação muito ágil, sem burocracia, coordenando e organizando a fila de navios com sistemas muito inteligentes. Temos o menor tempo de espera do Brasil. Ano passado, cresceu o volume do agronegócio em 25% em relação a 2023. Já exportamos café, soja e milho, e importamos fertilizantes. Este ano, vamos fazer 600 mil ou 800 mil toneladas de grãos. Construímos dois armazéns e um parceiro nosso construiu mais um ou dois. A capacidade é seis vezes maior do que há três anos. Temos planos de construção de um terminal dedicado de grãos, o T-Grão. Acreditamos que conseguimos capturar até 3 milhões de toneladas por ano de grãos com esse novo terminal.
Rogério Zampronha / CEO da Prumo Logística
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