Martes, 18 de Noviembre de 2025

Guerra em gaza ameaça ecossistema de startups

BrasilO Globo, Brasil 17 de noviembre de 2025

Antes da guerra na Faixa de Gaza, iniciada em outubro de 2023, os territórios palestinos ...

Antes da guerra na Faixa de Gaza, iniciada em outubro de 2023, os territórios palestinos abrigavam um ecossistema de tecnologia em expansão, que gerava empregos e era visto como uma das grandes promessas da economia. O setor de tecnologia da informação e comunicação (TIC) já representava 3,2% do PIB em 2020, segundo o Banco Mundial, e as exportações de serviços haviam saltado de menos de US$ 2 milhões (R$ 11,4 milhões), em 2000, para mais de US$ 85 milhões (R$ 484,5 milhões) em 2017. A guerra, porém, reverteu 15 anos de ganhos econômicos. Para sustentar o setor, hubs de inovação como o Intersect Innovation Hub criaram um fundo de apoio a startups, capacitaram freelancers em Gaza que operam com painéis solares e ajudaram empresas a buscar novos mercados. Mesmo assim, o esforço para manter a economia digital viva ainda enfrenta barreiras, como, segundo se relata, o preconceito contra a contratação de talentos palestinos.
A base desse crescimento estava em um ecossistema de startups e empresas de tecnologia. Um documento do Gaza Sky Geeks (GSG) revela que, antes do conflito, a Palestina tinha mais de 700 empresas na área, apoiadas por uma rede de incubadoras e aceleradoras que formaram milhares de profissionais. Mais de 60 mil pessoas foram treinadas pelo GSG entre 2011 e 2023 em economia digital. Fundada em 2011 pela Mercy Corps com apoio do Google, a GSG é o principal hub de tecnologia dos territórios e, com a guerra, passou a estimular a contratação de palestinos em empregos remotos, junto a outras academias, como Axsos Academy, TAP, Manara e GGateway.
Antes da guerra, o GSG mantinha três programas principais, agora suspensos. Entre eles, a "Code Academy" era um treinamento intensivo de 16 semanas em programação e tecnologia, voltado para a inserção no mercado digital. Já o Startup Program acompanhava empreendedores por 16 semanas, orientando desde a formulação da ideia até o desenvolvimento do produto e do modelo de negócios.
retrocesso econômico
Essa trajetória de crescimento e os anos de investimento foram revertidos pela guerra e a Palestina mergulhou em um retrocesso econômico severo. Rakeb Rabi, CEO da incubadora Intersect Innovation Hub (financiada pelo Banco da Palestina), diz que a guerra desencadeou um período de demissões em massa:
" Nas primeiras semanas da guerra, empresas internacionais e israelenses demitiram todos os trabalhadores palestinos só por serem palestinos.
Em resposta, o Intersect Hub criou dois mecanismos de socorro imediato para sustentar a economia local. O Safe Palestine destinou cerca de US$ 3 milhões (R$ 17, milhões) a 28 startups em estágio avançado, garantindo a continuidade das operações. Paralelamente, o Rise Palestine atuou como um subsídio direto, compensando a perda de renda das empresas. Além disso, um programa conectou profissionais demitidos a oportunidades globais, terceirizando trabalhadores para empresas nos Emirados Árabes Unidos e em outras partes do mundo.
" Lançamos três hubs de inovação em Gaza (onde os profissionais trabalham), que funcionam com painéis solares. Começamos com 250 freelancers e agora temos mais de 800 " detalha Rabi, ressaltando que, apesar dos esforços, um entrave persistente é o preconceito na contratação de profissionais de origem palestina. " O que é realmente irritante é que, quando uma empresa vai contratar um talento online, não olha para nacionalidade, raça ou religião. No caso dos palestinos, as pessoas olham. Estamos aqui para contar essa história: você está contratando essa pessoa pelo talento dela.
As consequências econômicas da guerra são devastadoras. Um relatório contundente do Banco Mundial, denominado "Impactos do conflito no Oriente Médio na economia palestina", afirma que o Produto Interno Bruto (PIB) retornou aos mesmos níveis de 2009, anulando 15 anos de ganhos econômicos.
Em Gaza, onde a crise humanitária se aprofunda, o PIB encolheu 83% em 2024. A participação do enclave na economia palestina despencou de 17% antes da guerra para menos de 3% no ano passado, enquanto o desemprego saltou de 22% para 69%. Mesmo a Cisjordânia foi duramente impactada, e a atividade econômica ainda permanecia 17% abaixo do patamar pré-guerra em 2025. Com polos em Ramallah, Nablus e Hebron, a região concentra os principais hubs e mecanismos de financiamento.
Apesar da perda de empregos e do enorme impacto econômico, o ecossistema de tecnologia palestino busca se reinventar. As áreas de maior foco da economia digital são desenvolvimento de software, aprendizado de máquina e motion graphics, entre outras. No Expand North Star, evento de investimentos ligado ao Gitex em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, a Palestina levou 10 startups por meio do Intersect Innovation Hub, reforçando a busca por capital e mercados internacionais. Uma delas foi a Coretava, especializada em CRM e Retail Media, que usa inteligência artificial para analisar e interpretar dados de consumo.
crescimento fora
Hoje, a empresa opera em Peru, México, Argentina, China, Brasil, Emirados Árabes Unidos e nos territórios palestinos. Segundo o desenvolvedor de negócios Khalil Abdelhadi, a decisão de expandir para Dubai se deve à infraestrutura mais favorável e ao ambiente tecnológico mais maduro. A companhia, porém, mantém um escritório na Palestina " e Abdelhadi reconhece o contraste entre sua trajetória e a de outras startups, que costumam crescer primeiro no próprio país antes de buscar mercados externos.
" A instabilidade política e econômica torna muito difícil para as pessoas decidirem trabalhar conosco, investir dinheiro e até tempo e esforço. Porque, mesmo que tenham paciência para embarcar em uma jornada, podem não garantir os fundos a longo prazo. Então, nos deixa tristes que estejamos expandindo muito mais rápido e de forma mais escalável fora do nosso país.
Mesmo assim, ele reforça o compromisso da empresa com suas origens:
" Ainda estamos e sempre estaremos lá. A maior parte da nossa equipe de tecnologia está na Palestina. Mesmo que estejamos expandindo fora, temos que retribuir. Um dia, quando o mercado (internacional) estiver pronto, vamos trabalhar na economia palestina. Vamos focar e dedicar todo o tempo que temos.
*A repórter viajou a convite do MC Group
La Nación Argentina O Globo Brasil El Mercurio Chile
El Tiempo Colombia La Nación Costa Rica La Prensa Gráfica El Salvador
El Universal México El Comercio Perú El Nuevo Dia Puerto Rico
Listin Diario República
Dominicana
El País Uruguay El Nacional Venezuela